Por que tantos super-heróis negros têm poderes de eletricidade?

 Por que tantos super-heróis negros têm poderes de eletricidade?

Por: Charles Pulliam-Moore
2 de julho de 2017 às 14:30

Tendo crescido como uma criança que adora histórias em quadrinhos, eu passei muitas tardes correndo pelo parque fingindo ser um super-herói que lutava com toda espécie de maldade. Por mais divertido que fosse, o processo de escolher qual super-herói eu queria ser me estressava por um motivo específico que ainda me incomoda até hoje.

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Naquela época, parecia estranho escolher na lista de personagens e perceber que, se eu quisesse brincar de um herói negro, quase certamente eu teria que sacudir as mãos para fingir que estava eletrocutando alguém. Sabe, tem muitos personagens de história em quadrinhos negros com super poderes baseados em eletricidade. Muitos.

Certamente, existe uma série de diferenças entre Tempestade, Raio Negro, Tormenta (a filha de Raio Negro), Vulcão Negro, Super-Choque e Xangô. Mas também há algo neles que parece derivativo na melhor das hipóteses e estereótipo na pior delas, considerando que a grande maioria dos mais populares personagens de super-heróis negros foram criados por homens brancos. (Vale a pena lembrar que Vulcão Negro foi criado pela Hanna-Barbera para o desenho Superamigos, que os produtores acharam que precisava de um personagem negro embora Black Lightning já existisse. Também vale a pena notar que Vulcão Negro foi criado após seu inventor, Tony Isabella ter deixado a DC por diferenças criativas).

Os super-heróis negros mais antigos, como Pantera Negra e Luke Cage entraram nos quadrinhos com sua tecnologia e super força, mas com o passar dos anos, a eletrocinese aparentemente virou o poder padrão para personagens negros. Mas por quê?

Imagem: Boom! Studios

Na quinta edição de Irredimível de Mark Waid e Peter Krause, Volt, um membro da resposta do livro para a Liga da Justiça, captura um sequestrador enquanto admite envergonhado para as pessoas em volta que sim, ele é um herói negro que tem poderes de eletricidade, e isso é algo que acontece, e ele está meio com vergonha disso.

Embora os poderes de Volt sejam um ataque divertido nas histórias em quadrinhos como um todo, eles levantam algumas questões sobre o que exatamente os criadores pensaram quando escolheram transformar personagens negros em baterias que andam e falam. Por um lado, pode ser capaz de fazer a arte mais cativante que você pode imaginar, e com o tipo certo de criatividade eletrocinese pode ser usada de várias maneiras inovadoras e inteligentes além de apenas descarregar a energia.

O escritor Matt Wayne ajudou a dar à Milestone Media e à DC Comics a voz assinatura do personagem Super-Choque e vários outros projetos como a série animada e vários quadrinhos como Super Choque e The Brave and the Bold: Milestone. Quando eu conversei com Wayne recentemente, ele me assegurou que, quando criam um novo personagem e decidem que poderes ele deve ter, cada escritor de quadrinhos senta e pensa o quão similar sua criação vai ser comparada às anteriores.

Imagem: Warner Bros.

Os poderes de Super-Choque, Wayne me disse, eram para ser uma extensão de sua personalidade geek e todos os tipos de projetos de feira de ciências que ele gostava de trabalhar. Em outros casos, no entanto, Wayne acha que os poderes de eletrocinese foram o jeito perfeito de conseguir um herói negro que pode participar de uma briga, mas não ser necessariamente quem vence a luta.

“Eu acho que é um pouco que esses tipos de heróis geralmente são fisicamente vulneráveis. Então eles levam umas porradas e saem da frente. Definitivamente, há uma sabotagem inconsciente dos heróis negros, mantendo-os apenas um pouco abaixo de ser um ideal heróico, o que costumava ser mais pronunciado”, disse Wayne. “Nessa caminho, talvez a eletricidade possa ser uma expressão inconsciente da natureza ‘domável’ do herói?”

Embora seja muito bom ouvir diretamente de um escritor sobre quanto pensamento eles colocam ao desenvolver a identidade de um personagem, o ponto ainda se mantém de que os heróis negros com poderes elétricos são um cliché estabelecido.

Pessoalmente, o que mais me chamou a atenção sobre a maioria dos heróis negros com poderes baseados na natureza é a linha tênue que os escritores e artistas tem que andar para ter certeza que seu personagem não está sendo representado como um “selvagem”.

A ideia que pessoas negras são inerentemente mais próximas à natureza é uma que tem várias relações com o cliché do negro mágico no qual muitos personagens negros são colocados.

O cliché da Eletricidade Negra parece um primo distante do Negro Mágico, já que ambos são formulações estabelecidas de um personagem cujas qualidades mais definidoras são um entendimento e comando sobrenatural de uma força da natureza.

Marvel

Não preciso dizer que Tempestade é possivelmente o exemplo mais icônico do cliché da Eletricidade Negra, mas ela também é um personagem que transcendeu muitas das limitações por ter sido escrita e desenhada de maneira cuidadosa através de diferentes mídias. Tempestade não é mais um herói negro que joga raios por aí, ela é um dos personagens mais cheio de nuances dos quadrinhos dos últimos 40 anos.

Nós vimos Tempestade tanto como uma mortal deusa do tempo quanto um humano vulnerável. Ela é incrivelmente forte, mas você sempre tem a noção que no centro de qualquer fenômeno temporal devastador que ela esteja manifestando, existe um ser humano tão poderoso quanto seus poderes.

É esse tipo de caracterização sólida e trato com a personalidade, Wayne me disse, que é chave em fazer um personagem não virar um estereótipo reduzido a duas dimensões.

“Entenda como é o seu personagem. Raio Negro não derrotaria um vilão da mesma forma que Super-Choque”, Wayne disse. “Apesar da abordagem de Vulcão Negro provavelmente ser indistinguível da de Raio Negro. A única diferença é quem recebe o dinheiro”.

Imagem do topo: Marvel, The CW, DC Comics
Por que tantos super-heróis negros têm poderes de eletricidade? Disponível em: <http://gizmodo.uol.com.br/super-herois-negros-poder-eletricidade/>. Acesso em 18 de nov de 2017.